c. No Ano da Fé é importante proclamar
Bento XVI, com muita sabedoria, alerta que muitos cristãos sentem “maior
preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que
com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida
diária” (Porta Fidei,2). Diante dos desafios que nos apresentam a sociedade
secularizada, nossa primeira reação é lançar-nos a fazer algo. Desejamos,
justificadamente, e nos esforçamos, com boas intenções, por unir pessoas,
grupos e entidades para combater aquilo que consideramos como nocivo ao cristianismo
e à humanidade.
Considero
importantes todas as iniciativas que visam promover nossa fé e incidir
positivamente na sociedade e que contenham o avanço do mal que se alastra em
nossa cultura. Mas, o que seriam dessas iniciativas de luta e de força, de combate
e embate sem a fé? Não vejo os primeiros cristãos se conjurando para dominar as
instituições através da força e do poder. A ação mais importante e fecunda de
nossos primeiros irmãos foi, a partir de experiência que nasce do encontro
pessoal com Cristo, testemunhar com a própria vida que Deus existe. Os pagãos
se sentiam atraídos pela beleza da fé católica e pela caridade com que viviam
os primeiros cristãos, e chegavam a exclamar: “Vede como se amam” (Tertuliano,
Apol.,39).
É na
caridade, na alegria, no entusiasmo e na felicidade da vivência de nossa fé que
iremos permear o mundo da esperança e do amor cristão. É no respeito, no
diálogo aberto, sincero e inteligente que construiremos pontes entre a Fé e o
mundo contemporâneo. Já existem muitos muros! Aprendamos a difícil arte de
escutar, entender, compreender e defender sem medo nossa fé, com serenidade e
respeito a evangelização e nossas ações sociais só produzirão efeito a partir
do momento em que cada cristão tiver um encontro pessoal com Cristo. Nossa fé
não é fruto de uma decisão, mas de um encontro, e só a partir desse encontro
nossa evangelização será uma luz que atrai por sua beleza divina.
Onde se
realiza esse encontro? Não se é cristão sozinho. O ser humano é um ser social
por natureza. É na comunidade de fé e na Igreja, como custódia dos sacramentos
de Cristo, que encontraremos, renovaremos e promoveremos nossa fé. Só podemos
nos dizer plenamente cristãos se encontrarmos nossos irmãos na oração, na
eucaristia e na reconciliação. Sem comunidade não há família cristã. É através
do mistério do Corpo Místico de Cristo onde toda a Igreja se encontra. É na
liturgia e nos sacramentos que toda ação tem sentido. “Sem a liturgia e os
sacramentos, a profissão de fé não seria eficaz, porque faltaria a graça que
sustenta o testemunho dos cristãos” (Porta Fidei, n.11).
É na
vivência comunitária de nossa Fé que encontramos o amor de Cristo. Sua
Santidade afirma que “é o amor de Cristo que enche os nossos corações e nos
impele a evangelizar. Hoje, como outrora, Ele envia-nos pelas estradas do mundo
para proclamar o seu Evangelho a todos os povos da terra (cf. Mt 28, 19)”
(Porta Fidei, n.7).
O
católico tocado pela fé é uma das provas e evidências mais fortes da existência
de Deus. Quando conheço um cristão coerente, vejo um milagre da criação. Vejo
Deus na Terra e percebo que não há trevas que possam invadir um mundo dominado
pela luz da fé, pelo sal do testemunho e pelo bálsamo da caridade. Em cada um
de nós, de certo modo, se realizam de maneira plena as palavras de Cristo: “Eu
estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos (Mt 28,20)”.
Peçamos a
Nosso Senhor Jesus Cristo a graça de viver nossa fé com toda nossa alma, com
todo nosso coração e com todo nosso entendimento. Só assim seremos o que temos
de ser e transformaremos o mundo. Só em Cristo, por Cristo e com Cristo
conseguiremos transmitir os tesouros de nossa fé e incidir positiva e
efetivamente na sociedade.
(Continua na próxima edição)